
Esta é uma coluna de cultura, eu sei. Mas quando arte e a vida são tão ligadas, fica difícil não comentar os fatos que estão na mídia nos últimos tempos. Apologia ao racismo, intolerância com as minorias (se todos somos diferentes, quem pode ser maioria?), atos de violência ao que lhe é diferente e muito sentimento de vingança. Numa sociedade cada vez mais individualista, a empatia e a cordialidade são deixadas de canto e a aspereza é o modo de viver diário. Como procurar entender e respeitar as sutilezas do outro se a vida de todos é recheada de problemas? Nosso tempo é precioso e a educação formal e informal é pouca. Mas a arte está aí para nos entreter e sutilmente levar a reflexão do que acontece ao nosso redor. O exemplo mais próximo foi a estréia da série Macho Man as sextas-feiras na programação da Globo. Apesar da emissora já ter tratado do tema em várias outras oportunidades, aqui ele é tratado com um humor crítico trazendo a tona nossos estereótipos e virando-os do avesso. Todo mundo já ouviu o caso de alguém que era casado ou com fama de namorador e, aparentemente, feliz, mas que do dia pra noite resolveu sair do armário. Beijo, Ricky Martin! Aqui o personagem principal depois de um acidente numa boate vira ex-gay! Brilhante! Como se adaptar com o “normal” se a vida toda foi de luta pelo diferente? Acostumar-se com pequenas sutilezas do mundo hétero como sentar, se vestir, a entonação da voz, as gírias... Mas “é tão cafona”, diria Nelson... Realmente, os homossexuais são mais abertos paras as belezas da vida. E se em Macho Man mostra o conflito de quem trocou um lado pelo outro, Modern Family mostra um casal gay bem resolvido cujos esforços se voltam para serem vistos como “normais” pela sociedade. Os conflitos são os mesmos de qualquer casal: a super proteção ao filho, o dilema de quem deve abrir mão da carreira para ficar em casa, as discussões em família. Mas a graça reside nos momentos em que percebem que é na diferença que eles se tornam especiais. Num dos episódios, Cam e Mitch tentam matricular a filha numa escola de elite e acreditam que sua condição será um ponto negativo na entrevista com a direção. Mas ao descobrirem que a escola valoriza as diferenças, eles mudam de discurso imediatamente mostrando orgulho de serem o que são. Quem sabe a arte e a comédia nos abram a mente para mostrar que é na diferença que nos tornamos próximos e que a intolerância pode apenas ser um lado mais feio do medo e da ignorância, não é verdade? Para refletir mais um pouco, deixo como dica o vídeo feito pelos funcionários gays do Google intitulado “It Gets Better”: www.youtube.com/watch?v=pYLs4NCgvNU. Impossível não se comover com a luta destas pessoas.
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